Noé

Quando olhamos a vida de Noé, vemos um homem que caminhava pela fé, sem olhar para o presente, mas atento ao Seu chamado.
 
As Escrituras nos ensinam que não havia ainda chuva, quando Noé começou a construção da arca (Genesis 2:5).  Mesmo assim ele assume o projeto divino e se embrenha na árdua tarefa. A Bíblia não nos narra, mas a construção levou anos para ser concluída.
 
Então Noé começa a recolher os animais, conforme vemos: "entraram com Noé na barca de dois em dois, macho e fêmea, como Deus havia mandado (Gênesis 7:9, 10, NTLH)
 
A informação da duração do dilúvio é bem comum. Mas quanto tempo Noé ficou na Arca?
Bom, analisemos os capítulos 7 e 8, editados:
 
Cap 7:
2 - Leve com você sete casais de cada espécie de animal puro, macho e fêmea, e um casal de cada espécie de animal impuro, macho e fêmea,
3 - e leve também sete casais de aves de cada espécie, macho e fêmea, a fim de preservá-las em toda a terra.
4 - Daqui a sete dias farei chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites, e farei desaparecer da face da terra todos os seres vivos que fiz.
10 - E depois dos sete dias, as águas do Dilúvio vieram sobre a terra.
12 - E a chuva caiu sobre a terra quarenta dias e quarenta noites.
17 - Quarenta dias durou o Dilúvio, e as águas aumentaram e elevaram a arca acima da terra.
18 - As águas prevaleceram, aumentando muito sobre a terra, e a arca flutuava na superfície das águas.
24 - E as águas prevaleceram sobre a terra cento e cinqüenta dias.
Cap 8:
3 - As águas foram baixando pouco a pouco sobre a terra. Ao fim de cento e cinqüenta dias, as águas tinham diminuído,
6 - Passados quarenta dias, Noé abriu a janela que fizera na arca.
7 - Esperando que a terra já tivesse aparecido, Noé soltou um corvo, mas este ficou dando voltas.
8 - Depois soltou uma pomba para ver se as águas tinham diminuído na superfície da terra.
9 - Mas a pomba não encontrou lugar onde pousar os pés porque as águas ainda cobriam toda a superfície da terra e, por isso, voltou para a arca, a Noé. Ele estendeu a mão para fora, apanhou a pomba e a trouxe de volta para dentro da arca.
10 - Noé esperou mais sete dias e soltou novamente a pomba.
11 - Ao entardecer, quando a pomba voltou, trouxe em seu bico uma folha nova de oliveira. Noé então ficou sabendo que as águas tinham diminuído sobre a terra.
12 - Esperou ainda outros sete dias e de novo soltou a pomba, mas desta vez ela não voltou.
 
 
Podemos ver nos textos acima que a permanência de Noé excedeu, em muito, os meros quarenta dias de chuva.
 
Imagino, inclusive, que os mais tensos dias eram os sete primeiros, porque viviam uma situação nova e naquele clima de expectativa, esperando a promessa se cumprir.
 
Vemos também: "No fim de quarenta dias, Noé abriu a janela que havia feito na barca  e soltou um corvo, que ficou voando de um lado para outro, esperando que a terra secasse.
 
Depois Noé soltou uma pomba a fim de ver se a terra já estava seca;  mas a pomba não achou lugar para pousar porque a terra ainda estava toda coberta de água. Aí Noé estendeu a mão, pegou a pomba e a pôs dentro da barca.
Noé esperou mais sete dias e soltou a pomba de novo.  Ela voltou à tardinha, trazendo no bico uma folha verde de oliveira. Assim Noé ficou sabendo que a água havia baixado. (Gênesis 8:6-11 NTLH)"
 
Noé recolheu, segundo as escrituras, em Gênesis 7:2, 3, um casal de cada animal impuro e sete casais de cada animal puro, isso porque os animais puros eram usados para alimentação  e, principalmente, para sacrifício.
 
Ao mesmo tempo, com as aves não houve essa distinção, de todas as aves, deve-se separar sete casais.
 
Isso não quer dizer que todas as aves eram puras, muito pelo contrário, havia aves puras e aves impuras.
 
Nessa época, todo o conjunto legal de Moisés ainda não havia sido codificado, compilado,  mas já se sabia que haviam animais puros e impuros.
 
Os corvos são animais impuros, como se pode ver em Deuteronômio 14:14 "— Vocês podem comer qualquer ave pura,  porém não comam as seguintes aves: águias, urubus, águias marinhas,  açores, falcões,  corvos... (Deuteronômio 14:11-14 NTLH). Reafirmado em Levítico 11:15.
 
O corvo é a ave do agouro, da maldição "Quem caçoa do seu pai ou despreza a sua mãe, quando ela fica velha, será comido pelos urubus ou terá os olhos arrancados pelos corvos." (Provérbios 30:17 NTLH)
 
Não só na Biblia, um dos textos mais famosos da literatura inglesa é "O Corvo" de Edgar Allan Poe.
 
Tomo liberdade de trazer um trecho, de tradução de Fernando Pessoa:
 
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
 
"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
 
Disse o corvo, "Nunca mais".
 
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
 
Libertar-se-á... nunca mais!
 
 
É essa ave, arauto do fim, que Noé solta em busca de vida.
 
O corvo, símbolo intrínseco da morte, pareia sobre a arca, ronda, ronda e ronda, como num claro sinal de que a vida não tinha espaço fora da embarcação, que sair dali era morte certa e que o tempo ainda não era de vida fora da arca.
 
Noé solta o corvo porque ele era um animal menor, desnecessário, descartável.
Abrir mão de um corvo não seria sacrifício nenhum, era uma tarefa fácil.
 
Já a pomba, solta a posteriori, essa sim significava abrir mão de algo importante. A pomba é, hoje e a muito tempo, símbolo da paz.
É como uma pomba que o Espirito Santo desce sobre Jesus, ao ser batizado por João Batista.
A pomba é usada como animal para expiar os pecados,
 
Qualquer um de nós sabe, mesmo aquele que nunca criou um pássaro, que ao soltá-lo, ele potencialmente fugirá. Portanto, soltar um pássaro com valor é mais preocupante que soltar um pássaro sem valor ou soltar um pássaro puro pode trazer mais consequências que soltar um impuro.
 
Abrir mão de algo valioso é muito mais difícil que abrir mão do que tem menor valor. O corvo é uma ave criada por Deus, tem seu papel no funcionamento do mundo, na cadeia alimentar, mas não tem o valor intrínseco da pomba.
 
Acontece que Noé tinha passado cerca de 277 dias imerso, completamente na dependência de Deus. o Senhor tinha provado a Noé que era capaz de sustentá-lo, como a toda criação. Deus não havia falhado em nada com Noé, tinha cumprido sua promessa integralmente e, mesmo assim, na hora de Noé abrir mão, deu o que era-lhe menos valioso até mesmo inservível e não vê em sua resposta um sinal de vida, mas ao abrir mão de um animal precioso, o ramo verde da vitória aparece a Noé.
 
Minha oração no dia de hoje é que eu, assim como você que lê esse texto hoje, possamos abrir mão do que temos de valioso entregando-o ao Senhor, para podermos cumprir a vontade de Deus em nossa vida.
Eu oro para que você possa ter claro, em sua mente, o chamado do Senhor e que possa ser nítido o que você precisa abrir mão para que Deus se faca ainda mais presente em sua vida.