Os cultos religiosos possuem uma sistemática similar que excedem as práticas do próprio cristianismo pois é um ritual que respeita a natureza do homem.
Por ritual entendemos o conjunto de elementos e práticas do culto religioso, ou seja, uma igreja, por exemplo, coleta seus dízimos e ofertas com os membros levando a frente seus donativos, outras possuem obreiros que passam entre os bancos e recolhem os valores, esse costume é uma espécie de ritual harmônico.
Em seu sentido mais amplo, a harmonia é a ciência da combinação dos sons, formando os acordes musicais. A palavra grega MOUSIKE significa não apenas música, mas também todas as formas de expressão que tenham por finalidade a criação da Beleza.
Pitágoras usava a música para fortalecer a união entre os seus discípulos, por entender que a música instruía e purificava a sua mente. Em sua Escola, a música era entendida como disciplina moral por atuar como freio aos ímpetos agressivos dos ser humanos.
As escrituras nos sugerem que obedeçamos uma ordem. A Primeira Carta de Paulo à Igreja de Corinto, em seu décimo quarto capítulo nos admoesta a termos um culto com decência e ordem.
Então, pela natureza humana, o ritual precisa de uma sequência específica. Ao mesmo tempo, a disciplina na igreja é encarada dentro de três aspectos e um deles é a instrutiva. Sua função é a instrução dos membros para uma vida de adoração. A rotina e a ordem no culto trazem segurança ao indivíduo, colocam-no em um ambiente que lhe proporciona tranquilidade e, nessa tranquilidade, ele consegue passar ao processo de autoanálise. Por esse motivo, as músicas devem ser de caráter neutro, pois a melodia deve ser aquela que induza o irmão a olhar dentro de si, elevando-se à reflexão do seu eu, e não propiciando o desvio dos pensamentos de irmãos para ir ao ambiente externo.
Além disso, uma vida disciplinada é agradável a Deus. A significativa mensagem de Jesus era a de cumprimento da lei. Jesus vem como forma de transcender a lei cumprindo-a integralmente para fazer da lei algo maior, o exercício do amor. A vida pessoal íntegra e integral vivida nos seis dias de não culto são a oferta a ser trazida ao altar no domingo. Nas palavras do Rabi, devemos amar o próximo como amamos a nós mesmos, devemos pensar no próximo antes de pensar em nós mesmos.
No momento do culto, em especial no louvor e na adoração, há uma análise do indivíduo, onde esse reflete sobre sua vida e podem ter duas reações, a primeira é a de entrega, quando a pessoa percebe os momentos em que efetivamente viveu de acordo com as Escrituras e esta pessoa devolve aos pés da cruz, como oferta de gratidão, em atitude de adoração, tal qual os vinte e quatro anciãos de Apocalipse 4.
Há também aquele que não tem essa valiosa oferta a entregar. Essa pessoa tem no louvor o seu momento de perdão, cf. Isaías 53:4. Por isso, é preciso ter a sensibilidade de compreender que naquele momento a pessoa está em contemplação, tentando retirar de dentro de si o que desagrada a Deus. Isso não é fácil, o próprio apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos, 7:19, nos afirma que o que ele deseja fazer, ou seja, as coisas que agradam a Deus, ele não consegue fazer, mas as coisas que desagradam a Deus brotam, afloram no seu comportamento naturalmente. Essa expiação, por vezes, causa até mesmo dor física, por isso não é raro haver choro.
Diante desse panorama dicotômico, vemos que os cultos costumam obedecer a mesma ordem sequencial, colocando uma introdução/recepção, seguido do louvor e em seguida a exortação/pregação e poslúdio e devemos encontrar músicas que melhor traduzam os sentimentos dos irmãos em cada momento do culto.
Isso acontece porque é uma ordem antropológica, o homem naturalmente precisa de alguns instantes para desprender-se, desligar-se das atribulações vindas anteriormente e externas à igreja. A mente humana, na sua grandiosidade, não nos dá, de primeira, a atenção total, por isso é necessário um período de transição. Isso acontece em qualquer cerimônia, nas cerimônias cívicas, começa-se com o hino, as aulas com a chamada.
Nessa esfera, a missão do líder de louvor é, portanto, dupla. Vemos desde os primórdios da separação das funções dentro do templo, que os levitas tinham uma função especial, que ainda hoje permanece com o líder de louvor. Sua função primeira é a de condução e supervisão dos músicos e cantores da igreja de modo a que desempenhem seu melhor agir para que sirvam ao Senhor com excelência. Mas sua função primaz é a de condução do povo e, assim como com Arão, ser o norte do direcionamento.
Os levitas, cf. Números 1, não eram contabilizados como povo, porque eram separados ao Senhor. A estes cabia a condução não só do povo, mas de todo o sistema de adoração. Eles levavam o próprio espaço de adoração, o tabernáculo.
Nessa égide, o líder de louvor precisa ter a consciência de que realiza sua atuação não só para Deus, mas para o povo também. É preciso criar a possibilidade para que todos, ou a grande maioria exerçam sua adoração.
Como nossas igrejas são compostas por pessoas de formação, idade e origem distintas, o líder de louvor, em sua função mitigada, precisa buscar músicas e hinos que permitam o conexão com o Altíssimo.
Isso porque a música possui propriedades psiconerológicas que alteram a frequência do funcionamento mental, o que é facilitado quando o tipo de música é agradável à pessoa.
Infelizmente, muitos líderes de louvor não compreendem essa função e pecam ao deixar a tecnicidade superar ou a dar prioridade apenas aos seus gostos pessoais. Um louvor perfeito não é composto somente de adequadas notas musicais, mas de uma participação efetiva e verdadeira da igreja como um todo. Desse modo, deve o líder de louvor deixar de lado suas preferências e pensar no próximo, seguir as palavras de Jesus registradas no evangelho de Lucas, cap. 22, que o que lidera deve liderar como quem serve.
Ele deve preparar um Schedule que abranja a gama mais ampla possível a fim de satisfazer toda a igreja. Não pode ser somente o rock do jovem ou o hino dos anciãos, não deve ser somente o frenesi da adoração em uma música mais agitada ou a mansidão da introspecção de um música lenta, mais sim promover um caminhar por todo esse campo.
Isso porque a igreja possui duas dimensões, a vertical e a horizontal. A Dimensão vertical significa vida com Deus, abrir o coração para Ele com transparência e verdade. Precisamos orar em busca de mudanças em nossa própria vida interior, de transformação do nosso existir, do nosso mundo pessoal até chegarmos “à estatura do varão perfeito”. Orar no sentido de levar a igreja a cumprir seu papel de sal e luz do mundo. Orar para que a vontade de Deus aconteça na vida da igreja.
A Dimensão horizontal é a comunhão era objeto de ensino, de presença, de distribuição de bens, no partir do pão, na oração, na abertura dos lares. Toda a atividade e serviço visava a comunhão com Deus e o atendimento aos irmãos nas suas necessidades espirituais, emocionais, físicas, morais, etc. Viver esta proposta não é fácil, pois exige um compromisso profundo, íntimo com Deus que nos deu a vida em Jesus e que se traduz em ações práticas. Uma igreja que busca atender às necessidades dos outros e ensina a transparência, sem dúvida promove a saúde para os seus membros e a vida de Cristo passa a ser algo que acontece aqui. As pessoas estão cansadas da impessoalidade, desejam relacionamentos claros, sinceros. Comunhão é ter coragem e amor para dar, é ter coragem e humildade para receber.
O líder de louvor precisa ser uma pessoa mansa, que, assim como a música, possui harmonia no tratar, no falar, no agir. A ele é imputada a função de mestre de harmonia que significa ser o responsável pela condução harmoniosa da igreja, não apenas sua condução musical. Isso porque a música é uma forma funcional, cujo valor não depende principalmente do seu valor intrínseco, mas a sua importância para o destino designado. A música assume um papel importante nos eventos mais relevantes, sociais ou pessoais, onde tem um papel de mediador entre o diferenciado (material) e o indiferenciado (a vontade pura), ou entre o intelectual e espiritual.
Deus tem concedido à cada um de nós dons e talentos naturais e espirituais que devem ser usados estritamente para a glória e louvor de Deus. Estes devem abençoar a Casa de Deus e seus membros. Ao permitirmos que Deus nos use, estamos demonstrando na prática que não vivemos mais para nós mesmos. (Ec. 9:10; Cl. 3:23)
Assim, na condição de condutor do louvor e da adoração, além de toda a santidade inerente ao cristão, o líder tem a função de servo, devendo colocar a adoração do grupo a frente da sua própria.
A adoração ao Senhor é a essência da razão de existência do ser humano. O evangelho de João principia dizendo que todas as coisas foram criadas para a glória do Filho e que somos criados, que recebemos Roach (o sopro primordial de vida) para que vivamos uma vida de modo a render a devida adoração ao Senhor.
Essa deve ser a meta do adorador. Quando este tem isso bem claro em sua mente e coração e a capacitação técnica, então reúne condições de ocupar a honrosa função de líder do louvor de uma igreja. Com todas estas verdades a nos orientar o funcionamento do Corpo nos aspectos universal e local, cabe a nós compreendermos que a igreja caminha na esfera humana e na esfera espiritual simultaneamente e as nossas ações e posicionamentos tem uma grande repercussão no mundo espiritual. Sendo assim, é fundamental assumirmos um compromisso de viver com Cristo e permitir que Deus trabalhe em nossos corações para que a manifestação do Seu Reino seja plena através do nosso viver.